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A reação antigênero | com Flávia Biroli | 134

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O avanço de uma agenda igualitária de direitos relacionados a gênero tem um sentido claramente democrático. Por isso mesmo, a reação ultraconservadora a ela representa mais uma faceta da recessão democrática que marca nosso tempo. Essa agenda democratizante tem diversas dimensões: direitos reprodutivos, casamento igualitário, valorização da diversidade, educação voltada para a tolerância. Pois a reação a essa democratização ataca cada um desses pilares, denunciando uma suposta "ideologia de gênero".   No âmbito internacional, um marco desse processo de afirmação de direitos foi a "IV Conferência Mundial sobre a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz" das Nações Unidas. A ele se seguiram outros avanços no âmbito de organismos transnacionais. Não à toa o reacionarismo contemporâneo vê nos órgãos multilaterais um inimigo "globalista", que faz avançar o "marxismo cultural", em que a questão de gênero ocupa papel central. Mas afi

Limites da Democracia | com Marcos Nobre | 133

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Que perigo (ou quais perigos) o bolsonarismo representa para a democracia brasileira? E como esse movimento de extrema-direita teve sucesso em chegar ao governo central? Os antecedentes da emergência do bolsonarismo e da chegada de seu líder à Presidência da República têm raízes profundas na política brasileira.   As novas direitas surgidas sobretudo após as jornadas de junho de 2013 são um desses antecedentes. O pemedebismo, nascido na redemocratização e que congrega (mas não se restringe) fisiologismo e conservadorismo, é outro. Também a democracia digital, que desloca a democracia de partidos em diversos países. Para entender esse fenômeno este #ForadaPolíticaNãoháSalvação conversa com Marcos Nobre, filósofo, professor de Filosofia Política na UNICAMP e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Marcos acaba de lançar um novo livro, discutindo esses assuntos, e cujo título inspirou o nome deste episódio: Limites da Democracia: de junho de 2013

132- Bruno e Dom: a política que produziu o crime | com Fernando Vianna | 132

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A primeira metade de junho de 2022 foi tragicamente marcada pelo assassinato de Bruno Pereira, indigenista, e Dom Phillips, jornalista, no Vale do Javari, Amazônia brasileira. Numa incursão na área, lugar onde vivem diversos povos indígenas, vários deles ainda isolados, os dois foram mortos por membros do crime organizado atuante na região, estimulado pelo governo de Jair Bolsonaro, voltado à destruição da Amazônia e ao vilipêndio das populações originárias.   Não se trata de crime comum, nem mesmo se considerando o histórico de violência das relações entre indigenistas e ambientalistas, por um lado, e criminosos, por outro. A diferença está na política ativa do governo Bolsonaro em favor desses criminosos. Operando na ilegalidade incentivada pelo governo, grileiros, garimpeiros, madeireiros, pecuaristas, agricultores, caçadores, pescadores e até traficantes de armas, drogas e animais silvestres têm como inimigos os mesmos que o governo elegeu como os seus. A morte de B

A Justiça Eleitoral sob ataque | 131 | Com Vitor Marchetti

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O presidente Jair Bolsonaro voltou a intensificar seus ataques à Justiça Eleitoral e ao Supremo Tribunal Eleitoral, questionando suas decisões, seu funcionamento e a isenção de seus membros.   Os resultados ruins que Bolsonaro vem obtendo nas pesquisas eleitorais contribuem para o desespero e a agressividade. Não à toa bolsonaristas pressionaram – com sucesso – a XP a não divulgar resultados da pesquisa que contrata do IPESPE . Levantamento recente mostra que Lula é visto como honesto por mais gente do que Bolsonaro. Contudo, para além do presságio de uma derrota nas urnas, o que mais explica esse foco dos ataques do presidente na Justiça Eleitoral? Há características de nosso modelo de governança eleitoral que tornam esse ramo do Judiciário especialmente suscetível à desqualificação de maus perdedores? O comportamento de nossa Justiça Eleitoral também explica essa exposição de seus membros aos embates políticos? Para discutir tal tema este #ForadaPolíticaNãoháSalvação convi

O Estado de Espírito do Eleitorado | 130 | Com Nara Pavão & Silvana Krause

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As eleições de 2022 apresentam dois cenários distintos nos planos nacional e estadual. Nacionalmente se consolida a bipolarização entre Lula e Bolsonaro, com pouquíssimo espaço para outros concorrentes, mas nos estados a disputa ainda está em aberto. O que explica tal quadro? O que poderia mudá-lo?   O sistema partidário brasileiro tem passado por significativas transformações, ainda que a hiperfragmentação permaneça. Se, por um lado, o PT segue como um polo organizador da disputa nacional – devido ao petismo e ao antipetismo –, nenhum outro partido consegue desempenhar papel similar. O PSDB, que por duas décadas polarizou com o PT nas disputas presidenciais, com desdobramentos em alguns estados, desmilinguiu. Seu candidato presidencial, João Dória, não sobreviveu à impopularidade e ao boicote dentro de seu próprio partido, que segue conflagrado. O bolsonarismo, porém, que logrou (com sucesso eleitoral) substituir o PSDB na polarização com o PT em 2018, não tem ancoragem

Golpe de Estado: o nome e a coisa | Com Marcos Napolitano | 129

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Quanto mais se aproximam as eleições de 2022, mais se fala sobre a possibilidade de um golpe perpetrado pelo bolsonarismo. O presidente da República não perde uma oportunidade sequer para fustigar o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e os governos estaduais não alinhados. Indica que se não ganhar a eleição presidencial, afirmará que isso terá ocorrido por alguma fraude.   Embora não dê qualquer evidência das suspeições que levanta sobre o processo eleitoral brasileiro, Jair Bolsonaro mina a confiança de parte da cidadania nas urnas eletrônicas, joga a população contra o Poder Judiciário e invoca repetidamente sua condição de comandante supremo das Forças Armadas. Nessas ocasiões, além de invocar o apoio militar em nível federal, incita também os cidadãos armados a se colocarem a seu lado. Em suas palavras "um povo armado jamais será escravizado". Quem são os armados? Seus apoiadores. Quem os quer escravizar? Ninguém, mas é essa a narrativa.