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Golpe de Estado: o nome e a coisa | Com Marcos Napolitano | 129

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Quanto mais se aproximam as eleições de 2022, mais se fala sobre a possibilidade de um golpe perpetrado pelo bolsonarismo. O presidente da República não perde uma oportunidade sequer para fustigar o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e os governos estaduais não alinhados. Indica que se não ganhar a eleição presidencial, afirmará que isso terá ocorrido por alguma fraude.   Embora não dê qualquer evidência das suspeições que levanta sobre o processo eleitoral brasileiro, Jair Bolsonaro mina a confiança de parte da cidadania nas urnas eletrônicas, joga a população contra o Poder Judiciário e invoca repetidamente sua condição de comandante supremo das Forças Armadas. Nessas ocasiões, além de invocar o apoio militar em nível federal, incita também os cidadãos armados a se colocarem a seu lado. Em suas palavras "um povo armado jamais será escravizado". Quem são os armados? Seus apoiadores. Quem os quer escravizar? Ninguém, mas é essa a narrativa.

A Polarização Afetiva | Com Marcus André Melo | 128

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As democracias experimentam um processo de polarização política cada vez mais radical. Já não se trata só da contraposição entre preferências políticas ou afiliações partidárias, mas do antagonismo de afetos. Assim, a avaliação de governos e lideranças e o debate público ficam menos submetidos a considerações racionais e mais a sentimentos - por definição, irracionais.   Pesquisas na ciência política e noutras ciências sociais buscam compreender o fenômeno que ocorre no Brasil e noutras democracias, especialmente onde cresce o populismo. Esse assunto tem sido objeto da atenção do convidado deste episódio do #ForadaPolíticaNãoháSalvação. É ele o cientista político Marcus André Melo , professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante no MIT e na universidade de Yale. Marcus Melo é também colunista da Folha de S. Paulo, publicando semanalmente textos de análise política fortemente ancorados no estado da arte da produção científica. Em diversas d

As eleições e os arranjos regionais | com Carlos Souza & João Paulo Viana | 127

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Enquanto as pesquisas de intenção de voto indicam uma grande estabilidade na disputa presidencial, com a bipolarização entre Lula e Bolsonaro se solidificando, os candidatos buscam construir alianças nos Estados. Tanto os presidenciáveis querem reforçar sua posição em nível regional, como os candidatos a governador e ao Congresso querem se beneficiar do alinhamento com candidatos presidenciais fortes.   O que se pode dizer sobre esse processo? Qual o sentido das alianças tentadas, mas nem sempre concretizadas? Com um olhar no nacional e outro no regional, em especial para a região Norte do país, este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe dois convidados, ambos cientistas políticos. Um é Carlos Souza , professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisador da área de partidos e eleições. O outro é João Paulo Viana , professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), que também trabalha com esse tema. Ambos são pesquisadores do LEGAL, o Laboratório de Estudos Geopolít
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Em sua primeira viagem aos Estados Unidos como presidente, em março de 2019, Jair Bolsonaro afirmou: "Nós temos é que desconstruir muita coisa, desfazer muita coisa, para depois nós começarmos a fazer" . Seu governo é evidência cabal de que tal objetivo de desconstrução – ou de destruição – tem sido seguido diligentemente nas mais diversas áreas da administração pública, em especial aquelas contra as quais o bolsonarismo promove sua guerra: meio-ambiente, cultura, relações internacionais, educação, ciência, mas não só.   Uma das faces dessa desconstrução é o ataque e o assédio ao funcionalismo público , ou seja, à burocracia de Estado. A criação de listas negras (ou, no caso, "vermelhas"), a nomeação de pessoal incompetente para certos setores, a militarização, o autoritarismo nas relações de trabalho, a humilhação de servidores. Essas e outras ações compõem o cenário dessa destruição administrativa. Para compreender tal situação este #ForadaPolíticaNãohá

Que risco corremos? | Com Celso Rocha de Barros | 125

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A escalada autoritária de Bolsonaro só cresce, tendo como seu alvo preferencial o Poder Judiciário ou, mais exatamente, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A condenação do deputado federal bolsonarista, Daniel Silveira, a quase nove anos de cadeia por ameaças a ministros do STF e ao próprio tribunal teve como resposta uma nova afronta do presidente da República à corte, com a graça concedida por Bolsonaro a seu aliado .   Depois disso, nova crise adveio da observação pelo ministro Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE, de que as Forças Armadas têm sido orientadas (pelo presidente da República, seu comandante em chefe) a desacreditar o processo eleitoral. O Ministério da Defesa emitiu uma nota agressiva contra Barroso, afirmando ter ele as ofendido . Em meio a isso tudo o STF toma novas decisões contrárias aos interesses do governo ( como as relativas à sua política ambiental ) e se vê às voltas com a questão de como lidar com a situa

Bolsonarismo: linguagem da destruição | Com Miguel Lago | 124

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O que explica a resiliência de Jair Bolsonaro, que apesar do desastre como governo e na provisão de políticas públicas, mantém uma considerável popularidade e assegura ao mandatário um patamar considerável de intenções de voto? A oposição se vê atônita com a forma de agir do ex-capitão do Exército, marcada pelo uso da hiperconectividade das redes sociais e lançando mão de uma política mística, tanto para governar como para amealhar o apoio de uma base social fiel – em vários sentidos que a palavra "fiel" comporta.   Trata-se de um governo reacionário, voltado à "destruição como forma de constituição de uma utopia regressiva" – como enunciado na introdução ao livro. Destrói-se o Estado administrativo brasileiro, suas instituições e suas políticas. Mas há algo a ser construído? Se houver, do que se trata? O bolsonarismo fala muito de liberdade. Porém, qual a noção de liberdade bolsonaresca? Seria a de fazer "o que der na telha"? Seria a liber